quinta-feira, 1 de março de 2012

Jung: "Eu não acredito em Deus, eu sei."

Tive uma conversa muito interessante com meu amigo John. Estávamos discutindo a enigmática resposta dada por Jung à BBC no programa “Face to Face.” Como interpretá-la?
John me disse: “Jung tinha pai e vários tios pastores, mas nunca conseguiu, aceitar a religião dogmática de sua família. Ele via seu pai sofrendo, querendo ter fé a qualquer custo, mas sem conseguir seu intento, já que fé é uma dádiva de Deus.”
“Fé não se adquire em supermercado.” Eu comentei.
O fato é que Jung, como toda criança, recebia visões. Porém, ao contrário de outros, que tendiam a perder contato com essas visões, continuou dando atenção a elas durante sua vida adulta.
“Isso não é tão incomum,” disse John, “a Bíblia relata diversas visões de profetas. Porém, a sociedade contemporânea, com seu materialismo exacerbado, não aceita que isso possa acontecer. Visões são tidsas como coisa de maluco.
“Era esse o medo de Jung: ser considerado doido?”
“Quando garoto, sim. Jung, sem entender à época o que acontecia com ele, não tinha liberdade para buscar esclarecimentos com seu pai, ou com qualquer outra pessoa, e guardava para si suas visões. Ele relata seu drama em sua autobiografia: “Memórias, sonhos, reflexões,” em que menciona sua convicção de ter duas pessoas vivendo dentro de sua mente, que chamou, à época, de personalidades um e dois. Uma convivia com o mundo material, que as pessoas consideravam ser o único mundo real. A outra recebia visões e sonhos. Muito mais tarde, Jung reconheceu que essas visões e sonhos eram comunicações recebidas do inconsciente, e que deveriam ser valorizadas para que o ser humano pudesse ter uma boa saúde mental.”
Enquanto eu refletia sobre o que John dissera, um sabiá-laranjeira pousado em uma árvore em frente à janela e começou a cantar. ‘Fizemos uma pausa para curtir a melodia.
Depois de alguns minutos John retomou a conversa: “Jung se recusava a acreditar na dogmática religião Judaico-Cristã, que tanto fizera sofrer seu pai. Ele sentia que o ser humano devia buscar um contato direto com o divino. Este contato poderia ocorrer por experiências súbitas – São Paulo na estrada de Damasco, Moises e a sarça ardente – ou por um trabalho persistente e consciente de dar atenção às mensagens que nosso inconsciente nos envia – sonhos e visões – em um processo lento de crescimento, de conscientização, culminando em um estágio avançado que Jung chamou de individuação.”
Segundo Jung, o objetivo da vida humana é trilhar a jornada de individuação, Sua psicologia, que ele chamou de Psicologia Analítica para diferenciá-la da Psicanálise Freudiana, tem como objetivo orientar a pessoa em seu processo de individuação.
John continuou: “O primeiro passo desse processo é o reconhecer que o mundo material não é o único mundo real. Pelo contrário, sendo o objetivo da vida humana a busca de uma maior consciência, o mundo interior seria até mais importante. É através dela que nós conversamos com Deus.”
O fato é que Jung sempre tentou evitar um confronto com as religiões estabelecidas. Pelo contrário, seu objetivo era influenciar a Igreja Católica a se abrir para o inconsciente, Ele dizia que não era teólogo, mas simplesmente um psicólogo empírico, que tentava interpretar as imagens geradas na sua psique e na de seus pacientes e amigos. Achava que o Cristianismo poderia evitar o desgaste que suas poderosas imagens sofreram por dois mil anos, e se tornar um caminho muito mais aberto, livre de alguns dogmas.
John disse: “É compreensível que o Cristianismo, nos primeiros séculos, quando buscava ainda se firmar como uma religião de massas, definisse dogmas e perseguisse quem contra eles se rebelasse. Os Gnósticos, que pregavam um contato direto com Deus, deviam ser combatidos. A Igreja precisava do monopólio do diálogo com Deus para se firmar.”
Vale lembrar que um dos pontos que colocou Jung em confronto direto com a Igreja Romana foi o conceito do bem. A idéia de que todo bem está em Deus, e que todo o mal do mundo vem do homem, não era aceita por Jung. O Yahweh do Velho Testamento não era somente bom, mas completo. Como tal, era temido por seus seguidores. Não podemos nos esquecer de passagens da Bíblia em que Yahweh mandava matar homens, mulheres e crianças dos povos inimigos. Com o advento de Cristo, o Deus exclusivamente bom, o mal foi projetado no ser humano. Satã aparece quatro vezes no Velho testamento e sessenta e seis no Novo. Na dualidade, característica de nossa vida terrena, não pode existir o bem sem o mal.
“Nós começamos nossa conversa com a resposta de Jung na entrevista da BBC,” disse eu. “Divagamos por outros assuntos, mas não chegamos a ela.”
John não se fez de rogado: “Na minha opinião, Jung queria dizer que, tendo convivido intensamente com as imagens que recebia de seu inconsciente, tendo aprendido com elas, tendo percorrido sua jornada de individuação, ele não precisava apenas acreditar; ele conhecia Deus.
Roberto Lima Netto - Autor de “The Little Prince for Grownups”
www.robertolimanetto.com.br
rlimanetto@hotmail.com
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2 comentários:

  1. Sobrenatural a resposta de Jung, pois crer significa esperar por algo, mas Jesus já esta conosco: Deus Emanuel, por isso eu sei! tremendo!

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