quarta-feira, 28 de março de 2012

O mal no cristianismo e na psicologia junguiana

Jung discordava da teoria cristã que afirma ser Deus exclusivamente bom, e que todo o mal do mundo é causado pelos seres humanos. Yahweh, no Primeiro Testamento (nova denominação que está sendo atribuída ao Velho Testamento, para evitar a conotação de ultrapassado que a palavra velho carrega) era um Deus completo, englobava o bem e o mal. Não podemos nos esquecer de algumas passagens na Bíblia em que Yahweh mandava matar todos os inimigos: homens mulheres e crianças. O livro de Josué contém diversas histórias em que Yahweh ordena a morte de todos os habitantes de uma cidade conquistada.

Yahweh era mau? Não, ele era completo, estando acima do bem e do mal, o que para nós, seres humanos que vivemos na dualidade, é difícil de entender.

O demônio aparece apenas quatro vezes no Primeiro Testamento. Com o nascimento de Jesus, o Deus exclusivamente bom, o diabo aparece sessenta e seis vezes no Segundo Testamento, levando Clemente, um dos primeiros padres da Igreja, a afirmar que Deus dirige o mundo com Cristo na mão direita e Satanás na esquerda.

Qual a explicação psicológica para o mal? Jung mostrou que os seres humanos, que se julgam animais racionais, na verdade não o são inteiramente. O Ego, a parte consciente da mente, acha que é o soberano absoluto, mas isso não é verdade. Sob o domínio de uma forte emoção, o Ego perde o controle de nossas ações, e o ser humano passa a ser dirigido por um complexo do inconsciente.

Tudo se passa como se uma outra personalidade assumisse o controle do nosso corpo e de nossas ações. É como se abrigássemos em nossa mente diversas personalidades que, quando a pessoa está submetida a intensa emoção, podem assumir o comando da ações, colocando o Ego para escanteio. Quantas vezes você, sob o domínio de uma forte emoção, praticou atos de que se arrependeu posteriormente? Exemplos de casos de extrema violência em pequenos acidentes de transito são relatados frequentemente nos jornais.

Sybil, livro escrito por Flora Rheta Schreiber, relata a história real de uma moça com dezesseis personalidades ativas, algumas tendo conhecimento de outras, cada uma assumindo por períodos o controle da pessoa. É claro que este é um caso extremo, mas real.

Joseph Campbell, o maior mitólogo do século XX, um seguidor de Jung, usou uma frase lapidar para ilustrar esta situação: “Minha definição de demônio é um anjo que não foi reconhecido. Melhor dizendo, é um poder seu, para o qual você negou expressão e que você reprime. Então, como toda energia reprimida, ela começa a crescer e a tornar-se muito perigosa”.

Temos, alojados na parte inconsciente de nossa psique, complexos que, se não os reconhecermos, se não os tornarmos conscientes, podem fazer o mal mesmo que este não seja o desejo do Ego.

A única possibilidade de se eliminar o mal no mundo seria tornar cada vez mais consciente cada ser humano. Este é um processo longo, que passa por muitas gerações, muitos séculos.

Jung afirma que todo ganho de consciência de cada ser humano fica guardado no inconsciente coletivo para uso de futuras gerações. Será isso verdadeiro? Não estaria a humanidade involuindo? O materialismo exacerbado que aflige o mundo, a perda da religiosidade, a falência as igrejas, tudo isso não seria um sinal do Apocalipse?

Não creio; acho que a humanidade está melhorando. Muitos discordam, acham que a humanidade já foi melhor nos velhos tempos. Há, há, há, os velhos tempos! Não podemos nos esquecer que no século V AC, era de ouro da Grécia antiga, o homem tinha poder de vida ou morte sobre seus escravos, que as mulheres eram consideradas seres inferiores por ninguém menos que o grande sábio Aristóteles, que os bebês do sexo feminino eram frequentemente abandonadas na rua para morrer ou serem adotadas por casas de prostituição. Também não esqueçamos que os romanos crucificavam milhares de inimigos e os expunham nas estradas para amedrontar os opositores. Velhos tempos.

É verdade que no século XX tivemos um Hitler, um Stalin e um Mao Tse Tung, mas a humanidade está melhorando, sim. O problema é que dá dois passos para frente e um para trás, e cada passo desses é gigantesco, dura muito mais do que uma vida humana. Isso pode nos dar a impressão de involução.

Então, como ajudar a evolução da humanidade? Segundo Jung, o melhor que cada um de nós pode fazer seria crescer em consciência, avançar na jornada de individuação.

Você concorda? Você gostaria de colocar sua opinião neste blog? Seja bem vindo para postar seu comentário.

Roberto Lima Netto

2 comentários:

  1. Não concordo com a visão de Jung, de que a evolução humana é passada adiante através do inconsciente coletivo. Os tempos atuais certamente estão melhores em muitos aspectos, mas não em outros. É difícil ver se, no final, o saldo é positivo ou negativo em relação a alguma época passada. Acho que essa avaliação é algo complexo demais para nossa mente resolver.

    ResponderExcluir
  2. Não podemos nos esquecer que no século de ouro da Grécia (V aC)
    as mulheres eram desvalorizadas, os escravos não eram gente e os senhores tinham poder de vida e morte sobre eles. Os bebes do sexo feminino eram muitas vezes expostos nas ruas para morrer ou serem adotados. Algumas dessas barbaries acontecem nos tempos atuais, mas não como regra geral
    O problema é que a evolução da humanidade ocorre com dois passos para frente e um para trás, e cada passo desses dura muito tempo, certamente mais do que uma vida. Dai a sensação que podemos ter de estarmos involuindo.
    Roberto Lima Netto

    ResponderExcluir