segunda-feira, 16 de abril de 2012

Era Jung um místico?

Jung sempre teve a preocupação de ser visto como um cientista e psicólogo prático. Entretanto, devido as suas incursões pela questão religiosa, muitos o acusavam de misticismo. Nos dias de hoje, isso talvez seja um elogio, mas não em meados do século XX. Especialmente por querer que suas idéias fossem consideradas por outros psicólogos e cientistas de sua época, a pecha de místico o desgastava.
Sendo seu objetivo cuidar da saúde mental das pessoas, Jung não podia se furtar de falar sobre religião, matéria que, mesmo fazendo questão de afirmar não ser teólogo, ele enriqueceu com importantes contribuições. Aliás, Jung afirmou que não conhecia qualquer pessoa na segunda metade da vida que pudesse resolver seus problemas existenciais sem se ligar a uma força maior, e aconselhou diversos clientes a retornar a sua religião de origem.
Se a psicologia se propõe a melhorar o ser humano, torná-lo mais consciente, mais feliz, seu objetivo necessariamente se confunde com o das religiões. Jung percebeu isso e tentou influenciar a Igreja Católica, através de alguns amigos padres, buscando uma renovação que revertesse a situação de decadência pelo qual passava o Cristianismo, e que ainda passa na época atual.
Isso não foi possível. Quando Jung escreveu “Resposta a Jo”, a indignação de alguns amigos ligados à Igreja provocou o definitivo fim dessa tentativa de aproximação. Uma pena para o Vaticano e para todos os cristãos.
É interessante mencionar como essa obra foi escrita. Jung estava amadurecendo a idéia há tempos, mas sem coragem de seguir em frente. As pesadas críticas que recebeu com seu livro “Aion” o convenceram de que certas idéias muito avançadas eram mal compreendidas. Em um assunto tão carregado de emoção, não se pode esperar um julgamento racional. Se “Aion” despertou tantas críticas, o que esperar de “Resposta a Jó?”
Sua resistência ao livro foi vencida pelo Self, que o submeteu a uma febre que só terminou quando, três dias depois, o livro estava terminado. Ele teve que ser escrito para livrá-lo do mal. Jung se livrou da febre, mas não das pesadas críticas e desentendimentos com amigos, como o Padre White seu principal parceiro na luta para fazer suas idéias serem consideradas pelo Vaticano.
Jung teve o sonho de colaborar com o desenvolvimento do Cristianismo, tornando-o uma religião mais viva, pois considerava que os símbolos em que se baseava por dois mil anos estavam desgastados e desgastando ainda mais.
Roberto Lima Netto
Autor do “Pequeno Príncipe para Gente Grande.”, Ed. BestSeller, 4ª edição.
rlimanetto@hotmail.com

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